ORIENTE E OCIDENTE EM UM IMPASSE
- Elisa Romera
- 13 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de mar. de 2022
Guerras travadas durante boa parte da história humana levam à atual sinofobia e consequente politização da covid-19.
Por Elisa Romera de Freitas
Desde a antiga rivalidade entre os gregos e fenícios¹, até a atual guerra entre os Estados Unidos da América (EUA) e o Irã, o que é hoje considerado Ocidente esteve por séculos em um impasse com o Oriente.
Ao repartir o globo entre dois distintos hemisférios culturais, adotou-se “a abordagem ocidental sobre o Oriente; é a disciplina por meio da qual o Oriente era (e é) sistematicamente abordado, como objeto de estudo, de descoberta e de prática”, explica Edward Said, pensador palestino, em seu livro “O Orientalismo”².
Essa distinção, ilusória, estabeleceu-se a partir da ideia de uma Antiguidade Clássica que estava em contraponto à Antiguidade Oriental. Isso, baseando-se em questões políticas e culturais para estabelecer uma separação a partir do intenso antagonismo europeu e mediterrâneo. A seguir do leste de Greenwich, a identidade “clássica” não se aplicava mais.
Guerras eternas
O Mito do Rapto da Europa, que sustenta toda a Guerra de Tróia, consistia na história de um sequestro realizado por fenícios - povo que vivia onde, atualmente, conhecemos por Líbano, Síria e norte de Israel - ao capturar uma princesa grega, e é, hoje, um dos primeiros exemplos existentes da rivalidade entre as terras do leste e oeste global.
A sequência de conflitos que partem do século XXI antes de Cristo é extensa: Guerras Púnicas, As Cruzadas, Grande Cisma³ e a Guerra do Ópio são apenas alguns. Todos, porém, levaram-nos aos preconceitos sustentados atualmente por raízes centenárias de invalidações políticas.
O Irã, na era moderna, é o país que carrega essa longa e sistemática briga. Há décadas, os Estados Unidos da América baixaram a bandeira branca, sujando-a com o vermelho do sangue iraniano.
Porém, esse conflito, invisibilizado em uma nação distante como o Brasil, não é a única expressão das eternas guerras entre o Ocidente e o Oriente. A questão do coronavírus, próxima até demais, se repete em escalas menores dentro do nosso país.
Coronavírus: a morte de massas como instrumento político
O governo de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos da América, foi um marco para a sinofobia mundial - da pior forma possível. Discursos acusatórios infundados foram utilizados sistematicamente a fim de atingir um objetivo político: sustentar sua rixa com a China.
O mesmo ocorreu no Brasil que passou o ano de 2019 em uma briga unilateral. Nas mãos de Jair Bolsonaro, a imaginária guerra contra as conspirações comunistas custou a vida de quatro centenas de milhares de brasileiros.
A Organização Mundial da Saúde clamou, mais de uma vez, pela despolitização de um vírus que assola a saúde e economia mundiais. “ponham em quarentena a politização do vírus”, pediu Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da instituição.
Reduzir a capacidade destrutiva do SARS-CoV-2 é, necessariamente, como questionar a reverência da ciência e dos profissionais de saúde que sempre frisaram a indubitabilidade do potencial disseminador da doença. Porém, quando se discute vidas ou poder, a política, enquanto interesses, sempre prevalece.
NOTAS DE RODAPÉ
¹ Fenícios: civilização da Antiguidade que habitava os atuais Líbano, Síria e norte de Israel, são conhecidos como o povo do mar por realizarem navegações de comércio.
² O Orientalismo: livro de Edward W. Said no qual é defendido que o Oriente foi inventado por ocidentais.
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